Objetivos do Projeto

Este projeto tem por objetivo justificar a criação de Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais (NECI) dedicado ao estudo sistemático e comparado das transformações experimentadas pelo país sob a vigência de um governo democrático. Estas transformações afetam o funcionamento das instituições políticas, a produção de políticas públicas e a posição do Brasil no sistema internacional.

Democracia é um método por meio do qual conflitos são processados. Muito já foi dito sobre a ineficiência de regimes democráticos. Muito mais foi dito sobre a fragilidade da democracia Brasileira devido às especificidades de suas instituições e da sociedade civil. A sociedade Brasileira passou por transformações radicais em plena vigência de um regime democrático, tais como 1) avanços importantes no sentido da redução das desigualdades e da pobreza extrema; 2) Redefinição do desenho das políticas públicas e das relações inter-governamentais; e 3) maior protagonismo internacional do Brasil, seja por meio de sua participação nos arranjos que definem os procedimentos de governança global, seja por sua ação diplomática. Estas dimensões se inter-relacionam na medida em que o novo padrão de desenvolvimento econômico e social do país acopla a agenda interna aos temas de política externa, incluindo a política comercial.

Nosso propósito é criar um centro de excelência para o estudo comparativo da democracia e da sociedade brasileira, focando tanto em suas dimensões internas quanto externas. A conexão entre estas duas dimensões das transformações do país ainda aguarda a atenção que merece. Muito do que sabemos das transformações em curso enfatizam singularidades nacionais, isto é, carecem do necessário suporte comparativo.

O núcleo se apoiará em grupos de pesquisa previamente estabelecidos dentro e fora da universidade, como o Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um centro de pesquisa apoiado pelos programas Cepid/Fapesp e INCT/CNPQ, o Departamento de Ciência Política (DCP) e de Sociologia (DS) e o Instituto de Relações Internacionais (IRI). Estes grupos de pesquisa já estabeleceram vínculos com vários parceiros internacionais como Princeton University, University of Illinois, the European University Institute (Italy), Science Po (France), King’s College London, Warwick University, e the University of Edimburgh (UK).

As mudanças a ter lugar na sociedade Brasileira questionam algumas das noções centrais que estruturam nosso conhecimento acerca da natureza dos conflitos políticos e sociais no país. A ciência social brasileira tende a dar ênfase ao atraso e ao imobilismo do país. Sendo assim, mostrou-se incapaz de prever e, muito menos, explicar as profundas transformações que ocorreram no curso dos últimos decênios.

No plano internacional, a despeito das referências constantes a países emergentes, não há estudos sistemáticos que discutam a proeminência internacional do país. A projeção do país no cenário internacional como um polo de pode econômico, político e militar será limitada pelo comportamento de suas elites locais? A maior projeção internacional do país forçará um tratamento mais enfático das desigualdades domésticas?

No plano interno, sabemos pouco a respeito dos mecanismos pelos quais a democracia afeta os resultados das políticas públicas e a desigualdade. Como as várias formas de desigualdades sociais, econômicas e políticas interagem para minar ou fortalecer umas às outras? Quais são os mecanismos sociais que lhes confere durabilidade? Qual é o peso do território, tanto em escala ampliada (regional) como local (intra-urbana) para a reprodução destes mecanismos? Quais os formatos institucionais bem sucedidos na formatação de políticas que acatam as desigualdades? Será possível construir organismos internacionais que se provem capazes de deter poder efetivo para resolver as diferenças seculares entre poderes globais?